Começamos a descrição de nosso encontro parabenizando todas as mulheres, nesse em dia em especial, e em especial as mulheres de nosso grupo que sempre estão agregando nossos encontros com seu enorme intelecto, e experiências como professoras incríveis. Ademais, o dia de hoje foi pautado com base no livro: A terra dá, a terra quer, de Nego Bispo.
“A terra dá, a terra quer” é uma obra de Antonio Bispo que se insere no rico diálogo sobre decolonialidade e a relação entre terra, identidade e conhecimento. Bispo, em sua escrita envolvente e profunda, nos convida a reavaliar nossa compreensão da terra não apenas como um recurso, mas como um ser vivo e ativo com quem temos uma relação de reciprocidade.
O autor aborda a terra através das lentes da tradição e da memória coletiva, destacando como as práticas agrícolas e os saberes tradicionais dos povos originários e comunidades rurais são formas de resistência contra a imposição de modelos coloniais de desenvolvimento e produção. Ele argumenta que a terra nos dá tudo o que precisamos, mas em troca, ela exige respeito, cuidado e uma ética de coexistência harmoniosa. Esta perspectiva desafia a visão capitalista e extractivista que vê a terra apenas como uma mercadoria a ser explorada.
Para nosso grupo de pesquisa, que adota uma perspectiva pós-estruturalista, o livro de Bispo oferece uma reflexão crítica sobre as estruturas de poder e conhecimento que sustentam a exploração colonial e neocolonial. Através da narrativa de Bispo, somos levados a questionar a hegemonia do conhecimento ocidental e a valorizar as epistemologias do Sul, que são frequentemente marginalizadas.
A obra também ressoa profundamente com os princípios da pesquisa narrativa, pois Bispo utiliza histórias, relatos e experiências vividas para construir seu argumento. Ele dá voz a comunidades que tradicionalmente são silenciadas, permitindo que suas narrativas contribuam para um entendimento mais holístico e inclusivo da realidade. Esta abordagem não só enriquece o campo da pesquisa narrativa, mas também fortalece a luta decolonial, ao reconhecer e legitimar outras formas de conhecimento.
“A terra dá, a terra quer” é um chamado para repensarmos nossas relações com a terra e uns com os outros. É uma provocação para adotarmos uma postura de humildade e aprendizagem contínua, reconhecendo que a sabedoria ancestral e a conexão profunda com a terra são fundamentais para a sustentabilidade e a justiça social. Para o nosso grupo de pesquisa, este livro é um recurso valioso que nos inspira a continuar explorando e promovendo narrativas que desafiam e subvertem as narrativas dominantes, abrindo espaço para uma multiplicidade de vozes e perspectivas.
Em suma, Antônio Bispo nos oferece não apenas uma crítica contundente ao sistema colonial, mas também uma visão esperançosa e prática de como podemos construir um futuro mais justo e equilibrado. Sua obra é um testemunho poderoso da resiliência e sabedoria dos povos que mantêm uma relação de respeito e reciprocidade com a terra, e um lembrete de que a verdadeira transformação começa com a valorização e o respeito pelas múltiplas narrativas que compõem nossa humanidade compartilhada.
Bibliografia:
SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: UbuEditora/PISEAGRAMA, 2023.
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